Da morte...


"O conhecimento, ao contrário, bem longe de ser a causa do apego à vida, atua em sentido oposto; ele revela o pouco valor da vida, e combate, desse modo, o medo da morte. Quando prevalece o conhecimento o homem avança ao encontro da morte com o coração firme e tranquilo, e daí honramos sua conduta como grandiosa e nobre" (SCHOPENHAUER, Arthur. Da morte. Martin Claret. 2001. p. 26)


A vida é complexa, irracional, não se estuda a vida, o nascimento, não se pensa sobre isso; do contrário a morte é a musa inspiradora da filosofia e de todas ciências. O fenômeno da morte é o que move. Há quem tente eternizar a vida, evitando a morte; artistas se expressam, muitas vezes, com intuito de se perpetuar de alguma forma, como um símbolo ante ao perecimento. 

A Vida é amarga, cheia de altos e baixos, indefinível, pois uma vez vivos, não sabemos o que virá pela frente, infortúnios, doenças, e por fim, o medo máximo, a morte. 

Mas aquele que a teme, é um fraco. Um indivíduo irracional. Do contrário, quem a espera tranquilo, lúcido e com o coração firme, este é especial. Digno da razão. Este enfrentamento se dá somente pela razão. Essa razão supera a vontade da vida, essa essência. 

Da vida pode-se dizer que já é vontade do nosso ser. Não se tem uma razão por ela. Buscar a razão da vida, estando vivo, é o mesmo que a hélice do ventilador se achar o próprio ventilador (lembrando que hélice nenhuma se moveria a não ser pelo motor e a eletricidade).

O conhecimento sobre a vontade da vida, princípio da nossa existência, é desprezível. Não é o amor à vida que nos mantém felizes, mas o medo da morte. (Não é a luz que vive por si só, e sim a escuridão; não é o som que é eterno, e sim o silêncio). Então, cada dia vivo, uma vitória, e vitória, gera satisfação. 

Se há medo da morte, qual o porquê do valor à vida? O medo prevalece, o medo é a razão. E essa razão, o conhecimento, não dá a noção do sentido da vida, pelo contrário, nos dá ciência da morte. E este é o rotor, o que nos move, o que nos, paradoxalmente, mantém vivos.

Mais uma coisa, sobre o "não-ser". Voltaire e Sócrates alegam que seria preferível não existir, caso tivéssemos (o ser humano) essa escolha entre viver ou não existir. Deixam, eles, dessa forma, a noção que a vida é complexa, sofrível, chata e amarga: 

"... pois o valor objetivo da vida é bem incerto, e é pelo menos duvidoso se a ela, a vida, não seria preferível o não-ser [...] Vá bater nos túmulos e perguntar aos mortos se querem ressuscitar: eles sacudirão a cabeça em movimento de recusa"



Comentários

  1. Na realidade nosso espírito é imortal. A vida citada aqui é a vida na terra, essa realmente, se pudéssemos, evitaríamos, pois ainda se trata de um lugar de expiação, portanto, de sofrimento e afins mas necessários para nosso desenvolvimento e evolução.

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