Espere!

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O cidadão do século XXI se tornou um super-herói. Não um super-homem, aqueles com poderes como força, raios ou supernova, nem um X-Men mutante, (nem muito menos o ubermensch, o super-homem de Friedrich Nietzsche), mas o homem com o poder da velocidade. O “Flash”. Tudo se é feito “para ontem”. Não se pode tardar. É uma corrida contra o tempo. Um tempo surreal, diga-se de passagem, tornando o indivíduo em máquina. Parece que a mente humana tem de acompanhar a tecnologia. Vide os anúncios: processadores, memórias, internet, microondas, impressoras, tudo, a cada dia mais rápido. Claro, ótimo! Se a máquina funciona desta forma, maravilha! A máquina… Só ela, ok?

A cultura da indústria e da mídia, associa, de alguma forma, o cérebro humano ao avanço tecnológico. Claro, médicos devem saber operar, utilizar instrumentos, assim como engenheiros também, conforme surge uma nova tecnologia, ou algum novo instrumento, e para isso há exigência de estudos, atualizações e tudo mais. Mas é um trabalho cerebral (vamos assim dizer) em uma área específica. Um foco numa região, uma luz em uma determinada área, e isso pode se chamar ciência. Isso é salutar, desde que não seja algo massivo, claro!

Seja na área humanas, saúde, ou exatas; seja o cidadão que for, - até mesmo o médico ou engenheiro, quando não estão, também, em seus devidos ofícios - todos sofrem esta “cultura da pressa”, todos encontram-se completamente inseridos neste caso.

Tudo é movido à pressa. Tudo é muito corrido nesse mundo... (Coitado do motociclista que faz entregas). Não me refiro somente à pessoa querer ganhar a corrida contra o fenômeno tempo, não… Me preocupa, também, a quantidade (e a qualidade) de informações por nós recebidas (e enviadas). Isso que é o agressor principal do cérebro humano. Tudo é informação. Tudo é corrido. Tudo é um complexo.

Apesar de haver uma ordem no mundo, - na natureza - existe, também, um caos pairando por sobre nós. Estamos vivendo em um caos de informações. Querem (a indústria, a mídia) controlar tanto as coisas, que acabam deixando tudo em desordem. Querem tanto nos manter informados, nos dar conforto, que acabam trazendo o apocalipse para nossas vidas.

A rotina de sair de casa e ir ao trabalho, por exemplo, se tornou algo tão surreal, que você penetra num universo tão caótico e bizarro que às vezes é de se refletir que um consumidor de drogas sintéticas está mais inserido na realidade e no bem-estar do que uma pessoa “limpa”. A gente passa por tanta coisa, vê, olha, ouve, escuta, sente, se atenta, se desespera, se cuida, se previne, calcula, pensa, repensa, se lembra, se emociona, se irrita, se alegra, que… Ufa! É melhor viver no “mundo sintético”. O que é gasto de neurônios com essa “ida ao trabalho pela manhã”… Se a pessoa gastar o que gasta nessa brincadeira ai, apenas focada numa experiência com física quântica, estaria apta a criar um novo planeta Terra, com um novo Sol e Lua (risos).

Nada comprovado cientificamente, óbvio, apenas uma descontração, mas realmente há uma preocupação no dia-a-dia de uma cidade grande. Vejo sim um problema no complexo e na quantidade de informações a nós impostas.

Problemas cardíacos e estomacais, apresentados hoje, - se buscar mesmo a origem dessa doença - irão apontar para outra doença: a mental. Sim! Problemas de estresse, depressão e etc, causam “ferimentos” na matéria; refletem em órgãos mais importantes do corpo humano. Má digestão, por exemplo, pode estar associada à pressa maldita que alguém tem da vida: o almoço atrapalha às coisas mais importantes (fúteis) do cotidiano da vida moderna. A ansiedade, de repente, por concluir algum trabalho, algum projeto, devido à cobranças, ou até mesmo a imposição que a mídia faz ao cidadão, - que o coitado “tem que ter”, “tem que possuir”, “tem que lutar”, pode vir a afetar o sistema circulatório.

A vida não é mais vida, propriamente dita. A vida é luta, guerra, conquista. A “ganância”, palavra e atitude ruim, que até outro dia soava como um desejo exacerbado por algo, hoje se tornou tão normal que é igual unhas nos dedos. O cidadão hoje é desesperado, mas não tem noção.

O que me fez digitar essa “trozoba” toda, foi para falar sobre a espera, na verdade. Até quando se digita, para busca na internet, a palavra “espere” o site de busca lhe mostra imagens e dizeres se opondo: “Não espere”. Nem os bits, nem a internet, a tecnologia gostam de esperar. Claro foram criados por humanos, humanos não podem esperar. Digite “espere” e busque por imagens… Encontrarás algumas resistências, mas haverá um bom punhado de imagens apressadinhas solicitando “não esperar”. Não esperar o que, por que? Quem quer esperar ou o que quer esperar não pode? Qual é a desta imposição? 

Esperar (transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo), não existe mais para a mulher, ou o homem moderno. Este ato, este verbo, é indigno. Quem espera é desprezado; quem se adianta, se apressa é benquisto. Claro, ninguém gosta de atraso, ou de ausência, de fato, num encontro, por exemplo. Mas isto está envolvido mais com moral/ ética de alguém do que a opressão que este mundo moderno está fazendo ao seu habitante.

O instantâneo é uma virtude. O esperar morreu e foi esquecido… Ninguém mais quer ouvir esta palavra, ou saber de alguém que “está esperando”. Esperar… Mas tem aí, dois sentidos, dois pontos de vista. Vejamos... O ato de se esperar, que causa repulsa a uns, está se tornando um bom viés para outros.

Algumas pessoas estão recorrendo à “espera”, como uma alternativa, uma dose diária de virtude, de bem-estar. Antes havia meditação, yoga, tai chi chuan, chá, sauna, massagens… Não! Hoje basta sentar e esperar, algo, ou alguém, que… Pronto! Renovado, relaxado, mundo caótico esquecido por alguns minutos, ou horas.

Sentar e esperar parece, no mundo moderno, ser a solução, a fuga, para muitos problemas. É andar na contramão da correria desenfreada imposta por indústrias em conluio com meios de comunicação. “Tire 30 minutinhos, 1 horinha para esperar e veja o bem que esta espera lhe fará”. Novo slogan do mundo moderno. Chegamos a este ponto… Pois é! “Esperar”, agora é um meio que se encontraram para fugir do mundo bizarro, atroz, que foi criado por pessoas insanas e egoístas.  O que era uma coisa comum, como unhas nos dedos, agora se tornou uma jóia rara e preciosa. Agende com seu médico, ou com algum serviço no setor público/ privado e espere… Espere, que faz um bem danado.

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