Diálogo com a chuva


Numa bela noite eu rogo uma companhia.
Eu estou só e quero conversar.
Eis que a chuva me dá o ar da graça.
Eu sinto que ela quer se comunicar.

Primeiro ela chega e toca a terra de mansinho.
Vem graciosa, sem alterar o tom de sua voz.
No meu ouvido sussurra baixinho,
Feéricas frases, formosas como rosas e girassóis.

A chuva, alegre, arruma um meio melhor de se comunicar.
Ela usa as folhas de uma linda amendoeira.
Que, verde, leve e vivas nas alturas,
Deixa cada gota cristalina se chocar.

A cada pingo surge uma palavra.
Ora fica aquele silêncio, ora vem uma enxurrada.

Às vezes as gotas sincronizam-se.
Mas de uma tal forma que...
Parece uma linda sinfonia,
Entoando a mais perfeita melodia,
Que meu pobre coração já sentiu.

Eu as ouço e compreendo-as perfeitamente.
(Com a amendoeira intermediando a conversa).
A chuva diz: "Calma, menino! Não tenha pressa.
Estou aqui, pois gosto de ti".

Quero responder, mas não consigo.
Tenho medo de ela não me entender,
Ou meu vocabulário ser mal traduzido.
Eis, uma noite de chuva que nunca vou esquecer.

Infelizmente, silêncio total: ela se foi.
A saudade já aperta, de fome farei greve.
Sorrateira, chegou se dizer 'oi',
Arisca, partiu sem dizer 'até breve'.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ou como se filosofa com uma agulha

Seja aqui e agora

Ontem e hoje